Combinação de remédios reduz em 61% a incidência da gripe em idosos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 12 de julho de 2018 às 15:48
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:51
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Para especialistas, o tratamento poderá evitar mortes relacionadas às doenças respiratórias na 3ª idade

O envelhecimento faz com que o corpo humano não consiga se
defender com força total contra problemas de saúde comuns, como a gripe.
Frágeis, os idosos sofrem mais com infecções respiratórias, uma das maiores
causas de mortalidade na terceira idade.

Em busca de solução para o problema, pesquisadores britânicos
testaram dois medicamentos que reforçam o sistema imunológico em voluntários
com ao menos 65 anos. A terapia combinada obteve efeitos positivos: reduziu a
incidência de infecções. Resultados do trabalho foram publicados na última
edição da revista Science Translational Medicine.

Pesquisas anteriores demonstraram que a inibição da proteína TORC1
— ligada ao envelhecimento das células — impacta na longevidade e no sistema
imunológico de camundongos e outros animais. “A abordagem prolongou a
expectativa de vida e melhorou a saúde em diversas espécies, incluindo vermes,
moscas e ratos. Em nossa pesquisa, nos decidimos analisar esse mecanismo em
humanos”, explica Joan Mannick, uma das autoras do estudo e cientista do
Instituto de pesquisa Biomédica Novartis, no Reino Unido.

A equipe analisou 264 voluntários saudáveis e com mais de 65 anos,
que foram divididos em quatro grupos. Três receberam doses diferentes de RAD001
ou BEZ235, dois inibidores de TORC1, durante seis semanas. Um grupo não foi
submetido à intervenção e funcionou como placebo.

Os cientistas descobriram que os idosos que receberam os dois
inibidores registraram menor incidência na ocorrência de infecções durante um
ano (média de 1,49 infecção por pessoa), contado após o início do tratamento. A
média é 61% menor que a do grupo de controle (2,41 infecções por pessoa).

Os pesquisadores também destacaram que os voluntários tratados
tiveram uma resposta imunitária melhor ao receber uma vacina contra a gripe,
administrada duas semanas após a terapia experimental. “Nós mostramos que os
inibidores da proteína TORC1 regulam os sistemas de defesa antiviral e diminuem
a percentagem de linfócitos (células de defesa) que estão ‘esgotados’, algo
positivo para o sistema imunológico. Também é provável que haja efeitos
adicionais desses inibidores no envelhecimento do sistema imune, mas ainda
temos que descobrir futuramente”, detalha Mannick.

A intenção dos investigadores é começar a estudar por quanto tempo
os efeitos benéficos da terapia duram. Com isso, acreditam, poderão determinar
os mecanismos responsáveis pelas menores taxas de infecção. “No momento,
estamos fazendo outro ensaio clínico para garantir que esses resultados podem
repetir. Também planejamos estudar os efeitos dos inibidores de TORC1 em outras
doenças relacionadas ao envelhecimento”, adianta a autora.

Obstáculos

Priscilla Mussi, coordenadora de Geriatria do Hospital Santa
Lúcia, em Brasília, e membro titular da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia (SBGG), ressalta que aumentar o tempo de vida de idosos e com mais
qualidade, como buscam os pesquisadores britânicos, é uma estratégia de grande
impacto social.  “Essa interferência pode fazer com que essa parte da
população sofra menos com as infecções respiratórias, que são a quarta maior
causa de óbitos de idosos mundialmente. No Brasil, a situação é ainda mais
severa. Elas oscilam entre a primeira e a segunda causa de mortes de idosos”,
diz.

A médica pondera que o custo pode ser um possível obstáculo para o
uso da abordagem. “A associação de imunobiológicos mostrou-se positiva, mas
esses remédios são extremamente dispendiosos, o que dificulta a incorporação
deles em um sistema público de saúde. Um ponto positivo é que os cientistas
usaram doses extremamente baixas, o que, talvez, possa fazer diferença”, diz.

Para Mussi, uma análise mais ampla dos efeitos do
tratamento experimental também é necessária. “Seria interessante enxergar esse
efeito em populações maiores, pois, dessa forma, temos uma noção melhor dos
efeitos colaterais, inclusive da diarreia, que foi constatada pelos
pesquisadores e pode provocar grandes danos aos idosos. Eles se desidratam e
acabam correndo outros riscos graves.”


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