Com troca de cartas, crianças francanas criam laços com indígenas de MS

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 31 de outubro de 2018 às 12:12
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:07
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Estudantes de Franca e de aldeia de Caarapó viraram amigos por cartas

Ela estava sentada em uma praça de Caarapó quando viu crianças indígenas brincando e lembrou de outros meninos e meninas com quem tem contato diariamente: os alunos do 1º ano da escola em que leciona em Franca (SP). 


Assim, a professora Jaqueline Fernanda de Jesus Gomes Ajeje, de 40 anos, teve a ideia de criar um projeto de intercâmbio cultural por meio de cartas para os estudantes paulistas conhecerem um pouco mais sobre a cultura dos indígenas sul-mato-grossenses.

“Parecia que eu tinha achado um tesouro porque sempre tive vontade de conhecer indígenas e nunca pude. Naquele momento foi um presente de Deus! Fiquei horas observando eles brincarem na praça, na água, porque estava chovendo aquele dia”, lembra a professora do dia da idealização do projeto que depois ficou conhecido como: “pequenas mãos, grandes corações”.

Sem ter ideia de quem poderia ajudá-la a concretizar o projeto, Jaqueline percorreu algumas lojas do centro da cidade perguntando onde ficava a aldeia mais próxima. De tanto perguntar e por coincidência acabou conhecendo Sueli Cardoso, que trabalhava na aldeia Tey kuê, onde vivem 6,3 mil indígenas da etnia Guarani Kaiwoá.

As duas conversaram sobre a possibilidade do intercâmbio cultural por meio de cartas e Jaqueline voltou para Franca esperançosa. “Contei para os meus alunos e os olhinhos deles brilharam. Então nós escrevemos cartas. Uma carta coletiva e vários bilhetinhos das crianças, junto com desenhos e fotos e enviamos para a aldeia”.

A curiosidade das crianças de Franca em relação ao modo de viver dos indígenas pautou a maioria das cartas. “Queriam saber se os índios andavam sem roupa, se faziam fogueira e sentavam em volta para contar história, do que brincavam, como era a escola e até o time de futebol favorito. Ao todo foram selecionadas 26 crianças da aldeia para responderem às dúvidas dos alunos paulistas.

Em Caarapó, as cartas foram recebidas com alegria pelas crianças que enviaram vídeos em agradecimento. Era uma espécie de prévia das correspondências que também enviariam meses depois. “Poderia ter usado a internet, mas saber que sua carta foi e esperar resposta não tem preço”, declarou a professora.

As cartas das crianças de Caarapó chegaram em Franca na última semana e foram lidas na Escola Municipal Vanda Thereza de Senne Badaró na última quinta-feira (25). “Foi um sucesso, foi emocionante. As crianças amaram. Nem aguentaram esperar nos lugares para a entrega, levantaram e ficaram ao meu redor esperando a cartinha. Nunca vou esquecer”, finalizou a professora, afirmando que “os alunos aprenderam a valorizar e respeitar a cultura indígena”.

Em dezembro, Jaqueline deve retornar a Caarapó e entregar uma última carta das crianças pessoalmente.  


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