Cientistas criam método que identifica maior risco para dengue hemorrágica

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 23 de maio de 2018 às 19:11
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:45
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Estudo publicado nesta quarta, 23, pode ajudar em estratégias de prevenção da dengue hemorrágica

Equipe de cientistas do
Instituto Pasteur conseguiu estabelecer quais indivíduos estão sob maior risco
de desenvolver a dengue hemorrágica, a forma mais grave da doença. A partir de
um experimento na Tailândia, eles identificaram a quantidade de anticorpos que
um indivíduo precisa ter para não desenvolver a condição. O risco é então
estabelecido quando o exame de sangue identifica células de defesa com número
de anticorpo abaixo desse limiar.

Os anticorpos no sangue são medidos por um teste que
chama “títulos de anticorpos” e os parâmetros encontrados pelos
pesquisadores foram os seguintes: indivíduos com teste menor que a proporção
“1:40” tem 7,4 vezes mais chance de desenvolver dengue hemorrágica
que um indivíduo com anticorpo abaixo desse parâmetro.

O achado, publicado na revista
Nature nesta quarta-feira, 23 de maio, pode ser utilizado para um mapeamento
dos indivíduos mais vulneráveis à doença. Com isso, governos podem adotar políticas
públicas de prevenção mais focadas nesses grupos.

Cientistas do Instituto Pasteur chegaram a essa
conclusão através de uma parceria com pesquisadores nos Estados Unidos. Juntos,
eles selecionaram 3.451 crianças de uma região rural no norte da Tailândia com
altas taxas de circulação da dengue. Elas foram monitoradas durante 5 anos, com
coleta de sangue a cada 90 dias. Também foram feitas consultas para verificar
se elas apresentavam sintomas da doença.

O estudo aponta que depois de
um ano da infecção os afetados chegam a uma quantidade de anticorpos que os
coloca dentro ou fora do risco para uma segunda infecção. Um ponto importante
da medicação de anticorpo é que, atualmente, há muitos casos de dengue sem
sintomas. Da amostra, pesquisadores identificaram que 65% das infecções são
subclínicas.

A partir
dos dados coletados nesse trabalho, os cientistas criaram um modelo estatístico
capaz de associar os anticorpos observados no sangue das crianças com a
possibilidade de complicações mais graves para a dengue. Na prática, o
experimento permitiu que um parâmetro de anticorpos fosse criado (menor que
“1:40”, maior a chance de infecção).

Isso é
particularmente importante porque formas mais graves da dengue surgem a partir
de uma segunda infecção pelo vírus. Indivíduos que desenvolvem a dengue
hemorrágica, por exemplo, têm anticorpos da primeira infecção, mas eles são
insuficientes para combater a segunda.

“É
como se os anticorpos se agarrassem ao vírus, mas fossem incapazes de
neutralizá-lo.”

Especificidade da dengue

O vírus da dengue tem quatro formas diferentes, conhecidas
como sorotipos. Os indivíduos correm o risco de serem infectados pelos quatro
tipos do vírus, como se estivessem pegando quatro doenças diferentes.

Isso faz
com que a dengue seja uma doença específica, diferente de outras infecciosas,
como o sarampo, por exemplo. Funciona da seguinte maneira: se você pega dengue
uma vez, você só fica protegido para aquele tipo de vírus específico — e não
aos outros.

Soma-se a isso o fato de que
quando se é infectado por um tipo de vírus, e depois a pessoa é infectada por
outro tipo, ela tem mais chance de desenvolver uma forma grave de dengue, a
hemorrágica.

Nessa
forma de dengue, além da febre e de sintomas similares à gripe, há sangramento
pelo nariz, boca e gengiva. De forma geral, há sangramentos internos em uma
espécie de colapso da circulação que pode levar à morte.


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