CEF perde liderança no crédito imobiliário com recursos da poupança

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 19 de março de 2018 às 07:50
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:37
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Volume de financiamentos para aquisição e construção caiu 31% em janeiro na comparação anual

Em meio às dificuldades de capitalização e com taxas de juros congeladas
há quase 1 ano e meio, a Caixa Econômica Federal perdeu a liderança no
financiamento imobiliário nas linhas de crédito com recursos da poupança.
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e
Poupança (Abecip), o banco foi ultrapassado por concorrentes pelo 3º mês
consecutivo.

Em janeiro, a queda no volume de crédito imobiliário concedido pela
Caixa caiu 31%, na comparação com o mesmo mês do ano passado, totalizando R$
749,7 milhões. Já o número de unidades habitacionais financiadas no mês recuou
de 5.131 para 3.742.

No primeiro mês de 2018, a Caixa foi superada por Bradesco e Santander,
com R$ 850,9 milhões e R$ 809,6 milhões em empréstimos para casa própria,
respectivamente. Itaú Unibanco somou R$ 741,2 milhões em crédito imobiliário e
Banco do Brasil, R$ 382,7 milhões.

Por concentrar a grande maioria das operações financiadas com recursos
do FGTS, a Caixa ainda segue com folga como o principal agente financeiro de
crédito imobiliário, com participação historicamente ao redor de 65%. No
segmento de financiamentos com recursos da poupança, entretanto, o banco viu
sua fatia de mercado cair para 19,5% em janeiro, ante um patamar de 38% nos
dois últimos anos.

O encolhimento da Caixa preocupa as incorporadoras porque acontece num
momento de recuperação do mercado, após 3 anos consecutivos de queda no volume
de empréstimos imobiliários. O crédito no setor fechou 2017 em R$ 43,15
bilhões, queda de 7,4% ante o ano anterior e menos da metade do patamar de 2014
(R$ 112,9 bilhões).

Em janeiro, o total de financiamentos imobiliários com recursos da
poupança somaram R$ 3,84 bilhões em janeiro, uma alta de 23,7% em relação ao
mesmo mês de 2017. No acumulado de 12 meses, entretanto, o montante ficou em R$
43,9 bilhões, 5,5% abaixo do apurado nos 12 meses anteriores. 

TCU avalia aporte de R$ 15 bilhões

Desde o final do ano passado, o volume de financiamentos da
Caixa tem encolhido. O banco está sem recursos suficientes e estuda uma série
de medidas para cumprir regras mais rígidas do sistema financeiro, que exigem
que a instituição aumente o nível de capital próprio para poder continuar
emprestando recursos a clientes e financiando projetos.

A Caixa informou que não irá se manifestar sobre o assunto “no
momento” e que a estratégia do banco para o ano no crédito imobiliário
deverá ser anunciada após a divulgação do balanço de 2017, prevista para
ocorrer ainda neste mês.

No dia 12, o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, disse que não descarta
usar recursos do FGTS para capitalizar o banco e “alavancar” o crédito.

No início do ano, o presidente Michel Temer sancionou uma lei que
autoriza o banco receber aporte de até R$ 15 bilhões, mas o banco ainda aguarda
aval do Tribunal de Contas da União (TCU).

Apesar do crédito mais restrito, a Caixa afirma que “todas as
linhas estão operando normalmente”, incluindo a pró-cotista FGTS, que
havia sido suspensa no 2º semestre do ano passado. No final do ano passado,
propostas de financiamento aprovadas ficaram paradas por conta de recursos.

A
linha pró-cotista FGTS foi retomada em janeiro, mas o valor disponibilizado
pelo governo para este ano é menor: R$ 4 bilhões, ante R$ 6,1 bilhões em 2017.
A linha pró-cotista é uma das mais disputadas por ser a que costuma cobrar os
menores juros para quem não se enquadra nas regras do programa Minha Casa Minha
Vida.

Caixa deixa de ter menores juros

Na contramão da concorrência, a Caixa não anunciou redução
nas taxas de juros para financiamento da casa própria em 2017, mesmo após a
sequência de 11 cortes seguidos na Selic, a taxa básica de juros brasileira,
atualmente em 6,7% ao ano. A última redução de taxas do banco para crédito imobiliário
aconteceu em novembro de 2016.

Com
isso, desde o ano passado, as taxas cobradas pela Caixa nos empréstimos pelo
Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI) e pelo Sistema Financeiro da
Habitação (SFH), seguem em 2 dígitos, e acima da concorrência. “A Caixa
sempre foi a instituição que tinha a menor taxa de juros para o crédito
imobiliário, mas hoje não tem mais. Já vemos uma competição entre os
bancos”, afirma Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da
Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade
(Anefac). “Essas dificuldades de
capitalização da Caixa acabam limitando medidas mais agressivas em termos de
redução juros”, acrescenta.

Segundo
dados do Banco Central, as taxas médias de mercado para financiamento
imobiliário para pessoas físicas caíram de 15,4% em janeiro de 2017 para 11,3%
em janeiro deste ano. Já as taxas médias reguladas, que compreende as operações
com recursos do FGTS, recuaram de 10,9% para 8,3%.


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