Carboidratos são cruciais ou desnecessários? Especialistas esclarecem

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 30 de dezembro de 2018 às 21:40
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:16
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Carboidratos são o principal combustível do corpo, mas também podem elevar o nível de açúcar

Carboidratos são fonte crucial
de fibra e energia ou um alimento que aumenta de forma prejudicial o nível de
açúcar no nosso sangue?

Estas biomoléculas formadas por átomos de carbono,
hidrogênio e oxigênio são um dos três principais grupos de nutrientes que são
encontrados em alimentos, junto com gorduras e proteínas.

Os carboidratos também têm três subtipos: amido, açúcar
e fibra. No Ocidente, comemos muito batatas, trigo e carboidratos à base de
milho, e também grandes quantidades de carboidratos refinados, como massa, pão
branco e biscoito.

Mas para que nos serve esse consumo?

Para responder a essa pergunta, um grupo de
especialistas em dieta para discutiu os méritos de uma dieta com poucos
carboidratos comparada a uma com muitos.

Argumentos a favor

“Um terço do que comemos
deve vir de carboidratos ricos em amido”, diz o professor de Ciência da
Nutrição Louis Levy. Isso porque, apesar de sua má reputação, os carboidratos
têm papel chave no funcionamento do nosso corpo.

1. Carboidratos nos dão energia
e nos ajudam a fazer exercícios

Os carboidratos são nosso principal combustível. O corpo
transforma o amido em açúcares e os absorve na corrente sanguínea, criando a
glicose.

Isso se converte em energia de que precisamos para
manter nossos corpos e cérebros ativos para fazer tudo, desde respirar até
fazer exercícios.

Gorduras e proteínas também geram energia, mas, durante
um treinamento cardiovascular, o corpo queima açúcares mais rápido. Então, o
consumo de carboidratos, que processados mais rapidamente pelo organismo, é
recomendável.

Uma dieta baixa em
carboidratos pode te deixar com pouca energia e fazer com que você se sinta
mais cansado quando estiver fazendo exercício.

2. Os carboidratos são uma
fonte importante de fibra

Há evidências de que a fibra pode ajudar a reduzir o
risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e câncer de intestino.

Grande parte da fibra que
obtemos vem de carboidratos com amido, por isso, ao reduzir o consumo desses
carboidratos, corremos o risco de ingerir pouca fibra. “Se incentivarmos as pessoas a deixarem
de comer carboidratos, é difícil que elas obtenham fibra o bastante”,
alerta Anthony Warner, também conhecido como “The Angry Chef” (o chef
bravo, em inglês).

Podemos obter fibra também de
frutas e verduras, mas, como diz Megan Rossi, do Kings College, de Londres,
“há cerca de cem tipos diferentes de fibra”, e todas desempenham um
papel importante para a nossa saúde.

Um estudo mostra que pessoas
que comem fibras de cereais têm menos risco de desenvolver câncer colorretal.
Ao cortar totalmente os grãos, estamos nos privando de “um tipo único de
fibra”, diz Rossi.

3. Carboidratos podem curar a
prisão de ventre

A fibra dos alimentos de origem vegetal é um material
que o corpo não consegue digerir e é crucial para que os alimentos se movam
dentro do nosso intestino.

4. Os carboidratos são uma
fonte de nutrientes

As fontes saudáveis de carboidratos (verduras, frutas e
legumes) também são uma fonte importante de vitaminas e minerais, como cálcio,
zinco, ferro e vitamina B.

Eliminar os carboidratos
significa reduzir também estes nutrientes essenciais.

5. A redução do consumo de
carboidratos pode levar a uma dieta mais rica em gordura

Os carboidratos como massa e batata agregam volume aos
pratos e nos fazem sentir satisfeitos depois de comer.

Reduzir a quantidade de carboidratos e substituí-los por
mais proteínas gordurosas, como carne vermelha e queijo, nos faz ingerir mais
gordura saturada, o que pode aumentar a quantidade de colesterol no sangue.

Argumentos contra

Algumas
pessoas, incluindo médicos e pacientes, estão optando por reduzir
significativamente a quantidade de carboidratos que consomem. Em alguns casos,
fazem isso para controlar obesidade ou diabetes, mas outros, apenas porque
acham que se sentem melhor assim.

1.
Os carboidratos causam picos e baixas de açúcar no sangue

Comer carboidratos refinados faz com que o nível de
açúcar no sangue varie drasticamente. Ao ser quebrado rapidamente, os
carboidratos causam um aumento do açúcar no sangue, seguido por uma baixa.

Uma dieta com poucos carboidratos torna mais estáveis os
níveis de sangue no açúcar.

Muitos de nós sentiremos esse sobe e desce de ânimo se
comermos massa no almoço. Essa variação pode ter implicações mais sérias do que
simplesmente sentir-se sonolento. Um aumento de glicose faz seu corpo responder
aumentando a produção de insulina.

O doutor Aseem Malhotra, um
dos cardiologistas mais influentes do Reino Unido, explicou como o consumo de
carboidratos refinados está “claramente ligado” à obesidade e à
diabetes tipo 2.

Uma espectadora do debate, Margery, concordou com esse
ponto de vista. Ela tratou sua diabetes reduzindo carboidratos. “Pude
reverter minha condição com a ajuda de uma dieta baixa em carboidratos. Agora,
nem tomo mais remédios.”

Estes carboidratos incluem açúcares e grãos refinados,
que não têm fibras e nutrientes.

2.
Proteínas e as gorduras nos mantêm satisfeitos por mais tempo

Os carboidratos fazem seu corpo reter água. Quanto mais
massa e arroz você come, mais inchado poderá se sentir. Os carboidratos podem
te deixar satisfeito no curto prazo, mas essa sensação logo desaparecerá.

Em contraste, os alimentos com baixo índice glicêmico,
como proteínas e gorduras, ajudam a fazer os níveis de açúcar no sangue
aumentarem ou diminuírem lentamente, o que pode fazer a sensação de saciedade
durar mais.

3.
Nem todos os carboidratos têm fibra

Já falamos que carboidratos são boa fonte de fibra. Mas
vale a pena ressaltar que os carboidratos que comemos contêm pouca fibra.
Quando são refinados, o farelo de trigo e a fibra são eliminados.

Podemos encontrar mais fibras em frutas, verduras e
legumes do que em massas ou bolos.

Afinal, os carboidratos são
nossos amigos ou inimigos?

Há argumentos bons a favor e contra o consumo de
carboidratos, então, qual é a resposta? Na verdade, é preciso achar um
equilíbrio.

Fiona Godlee, do periódico “British Medical
Journal”, destaca que um estudo do Instituto Nacional de Saúde do Reino
Unido publicado no início de 2018 demonstrou que tanto as dietas com muito
pouco ou com muito carboidrato são prejudiciais.

E está claro que a ideia de que um só modelo funciona
para todos “simplesmente não é adequada”. diz. “Para algumas
pessoas, é melhor comer pouco [carboidrato], mas, para outras, é bom comer
mais.”

A chave é saber o que é bom para você. O mais importante
é comer o tipo certo de carboidratos, concordam os especialistas. Devemos optar
por uma ampla gama de carboidratos ricos em fibra como trigo integral, aveia e
quinoa, dizem.

Ah, e é bom também evitar os carboidratos simples, como
bolo e pão, que têm com frequência muita gordura e açúcar.


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