Câncer de mama tem primeira imunoterapia aprovada no Brasil

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 25 de maio de 2019 às 23:13
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:34
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Tratamento estimula o sistema de defesa do próprio organismo a combater o tumor e prolonga a vida de pacientes

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) aprovou a primeira imunoterapia para tratar pacientes com
câncer de mama triplo-negativo na fase metastática da doença.

A aprovação do uso conjunto da imunoterapia
atezolizumabe com a quimioterapia nab-paclitaxel foi baseada nos resultados
do estudo ‘Impassion130’, que demonstrou redução de 38% no risco de
progressão ou morte e ganho de 10 meses de sobrevida em pacientes com expressão
do biomarcador PDL-1.

Publicado na revista científica The
New England Journal of Medicine
, o estudo clínico envolveu 902 pacientes tratadas
em 246 centros médicos de 41 países, incluindo o Brasil.

Os dados do estudo clínico chamaram atenção da
comunidade científica internacional. O avanço ocorre em um subtipo de câncer de
mama frequente em mulheres mais jovens, geralmente com menos de 50 anos, e para
o qual a eficácia dos tratamentos é desafiadora: o triplo-negativo.

A denominação vem da ausência da expressão de três
biomarcadores comumente empregados na classificação da doença: receptor de
estrógeno, receptor de progesterona e proteína HER-2.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o
câncer de mama é o que mais acomete as brasileiras, representando 29,5% da
incidência da doença no país entre as mulheres e quase 60 mil novos casos ao
ano.

O triplo-negativo representa em torno de 15% deste
total. Enquanto a taxa de morte por outros tipos gira em torno de 10%, a de
triplo-negativo varia entre 30% e 40% em cinco anos.

Outra característica é que parte dos casos evolui
para metástase em curto período de tempo, em torno de 1 a 3 anos.

Com base no cenário atual, o estudo ‘Impassion130’ – que foi apresentado
no congresso europeu de oncologia (ESMO Congress), no último outubro – veio
quebrar este paradigma ao demonstrar benefício clínico para as pacientes com a
presença do biomarcador PDL-1, que corresponde a 41% dos casos.

Nos Estados Unidos, esta mesma aprovação foi em 8 de março, após
trâmite acelerado na agência americana de regulação de medicamentos, oFood and Drug Administration – FDA.

No Brasil, o tratamento também recebeu a prioridade de análise,
um mecanismo adotado desde 2008 para garantir mais celeridade conforme sua
relevância para a população.

A nova terapia utiliza recursos da medicina de precisão, em que
o perfil do tumor é capaz de guiar as decisões clínicas para benefícios mais
expressivos. Além disso, como imunoterapia, estimula o sistema de defesa do
próprio organismo a atacar as células tumorais, estratégia conhecida por ter
menor toxicidade e respostas mais duradouras. “A imunoterapia vem sendo
utilizada no tratamento de câncer com resultados expressivos há cerca de nove
anos, mas este é o primeiro avanço em tumores de mama”, conta o pesquisador
brasileiro que participou do ‘Impassion130’, Carlos Barrios. “As pacientes com
triplo-negativo avançado ou metastático, quando a doença já passou para outros
órgãos, têm um prognóstico difícil. Este tratamento aprovado pela Anvisa se
torna o preferencial na prática clínica”, explica o especialista, que é diretor
do Centro de Pesquisa em Oncologia do Hospital São Lucas (RS) e do Grupo
Latino-Americano de Pesquisa em Oncologia Clínica (Lacog).


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