Diante da demanda por biocombustível, canaviais velhos preocupam usinas

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 22 de março de 2018 às 09:52
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:38
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Produtividade média da lavoura é 10% menor em relação à média histórica na maior região produtora do país

O setor sucroenenergético
brasileiro vive um momento importante. Além da alta no consumo de etanol em
relação à gasolina, deve ser beneficiado com a implementação do RenovaBio,
política que vai ampliar a participação dos biocombustíveis na matriz
energética e estimular a redução de emissão de carbono, seguindo os objetivos
do Acordo de Paris.

Mas enquanto aguardam o governo definir as metas de
produção de cada setor para 2030 e veem com otimismo o programa, as usinas
lidam com uma preocupação que, a cada ano, se mostra mais relevante: o
envelhecimento dos canaviais.

O problema está diretamente ligado à queda de
produtividade da lavoura. No resultado de 2016/2017, o Centro-Sul, maior região
produtora do país, moeu 76,6 toneladas por hectare, cerca de 10% a menos em
relação à média histórica, de 85 toneladas/hectare.

Um canavial é produtivo por até oito anos e precisa de outros cinco para
encontrar seu ponto de equilíbrio a partir da renovação das mudas, explica Antônio
de Pádua Rodrigues, diretor da Única de Ribeirão Preto.

Embora a meta do RenovaBio para a produção de etanol somente seja
divulgada em junho, o diretor estima que em torno de 18% das áreas cultiváveis
do Centro-Sul precisam passar por melhorias por ano. Etapa que antecede,
inclusive, projetos de instalação de novas indústrias. Segundo ele, há
indicadores que mostram uma demanda de produção na casa dos 50 bilhões de
litros de etanol. “Vai ser a primeira fase do RenovaBio: não vamos começar
com uma expansão, montando usina pra lá e pra cá. Nós temos uma condição de ter
um crescimento vertical da produção e não um crescimento horizontal da
produção”, diz. 

descarbonização

A garantia de ter condições de ofertar etanol nas quantidades
estabelecidas pelo governo é apenas uma das implicações do RenovaBio para os
usineiros, que também precisarão reduzir as emissões de carbono em seus
processos produtivos.

Da
quantidade de óleo diesel consumido pelas colheitadeiras à destinação da palha
da cana para a cogeração de energia elétrica, tudo que possa representar
impacto ambiental entrará nas contas do Crédito de Descarbonização por
Biocombustíveis (CBIO), certificação com valor no mercado financeiro a ser
emitida pelas usinas na venda do etanol às distribuidoras.

Com
isso, as indústrias terão que melhorar a eficiência em todos os seus processos.
Rodrigues estima que usinas que hoje emitam até 25 gramas de CO2 por megajoule
possam inclusive zerar seu impacto, a depender de como vão se adequar. “Se
eu sou uma usina ruim posso estar emitindo 25 gramas [de CO2 por megajoule, a
medida que base para o cálculo de emissão]. Se sou uma usina competente posso
estar emitindo 15 gramas. A minha usina que vai ser eficiente está emitindo
mais papel para colocar no mercado por litro de etanol do que a usina menos
competente. Aí tenho que avaliar de uma forma geral, não só a cana. Quero que o
fornecedor de cana seja produtivo, que a minha cana própria seja
produtiva.”

Além da cogeração de energia,
o diretor menciona a importância da produção de etanol de milho, em áreas com
disponibilidade dessa cultura, como Mato Grosso, Goiás e Paraná, do etanol de
segunda geração, ainda em fase inicial, produzido a partir da palha e do bagaço
da cana, e do reaproveitamento da vinhaça na produção de biodiesel. “Se uma usina tem bagaço e vai vender pra
indústria de laranja, não vai pesar nada. Mas se eu tenho bagaço e faço
cogeração de energia vai pesar muito. Se eu tirar essa do campo e fizer
cogeração de energia vai pesar muito. Tudo isso é o que já começamos a
demonstrar para as empresas se prepararem.”

Rodrigues, no entanto, observa
que uma meta estará associada a outra, ou seja, não bastará a usina melhorar
seus processos internos se não der conta de atender a demanda pelo
biocombustível. “A primeira variável minha é ser mais eficiente, é
aumentar a minha produtividade e reduzir meus custos de produção. Eu não vou
fazer isso de um ano para o outro.”


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