Brasileiro de Batatais atuou como falso médico em hospital da Argentina

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 31 de julho de 2018 às 08:10
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:54
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Com a fraude, batataense foi contratado e trabalhou por quase um ano em plantões

A denúncia de dois brasileiros que forjaram suas identidades durante meses para atuar em um hospital da província de Buenos Aires levantou o alerta entre centros de saúde sobre o exercício ilegal da medicina na Argentina. 

Cidadãos nacionais, bolivianos e brasileiros são suspeitos de atuar na área sem diploma.

Segundo o Colégio de Médicos da Província de Buenos Aires, que concentra um terço da população do país, há 26 fraudes do tipo no distrito. 

O órgão detectou casos de cidadãos argentinos e estrangeiros que forjaram suas identidades, não completaram seus registros profissionais ou omitiram a revalidação dos títulos na Argentina, no caso dos estrangeiros.

Tudo começou na quarta-feira, quando o Hospital Dr. Angel Marzetti, da localidade de Cañuelas, denunciou que dois cidadãos brasileiros trabalharam em sua equipe com nome, formação e matrícula usurpadas de dois outros profissionais da mesma nacionalidade.

Outros quatro médicos brasileiros da instituição foram afastados por terem irregularidades em seus documentos. 

O caso motivou a a renúncia do chefe do setor de emergências, Hernán Carpio.

Durante nove meses, um homem de 27 anos fingiu ser médico formado pela Universidade de Morón, onde está matriculado como estudante. 

Com a fraude, o brasileiro conseguiu que o hospital o contratasse em agosto do ano passado para cobrir plantões clínicos.

Segundo o jornal “La Nación”, ele ganhava 114 mil pesos por mês. 

Em abril deste ano, o falso médico, nascido em Batatais, na região de Franca, iniciou os trâmites para se casar com seu namorado.

Na certidão de casamento entregue ao hospital, o seu nome foi alterado para corresponder à identidade que usava.

Quando solicitado que apresentasse os documentos originais, abandonou o hospital e nunca mais voltou.

Foi assim que eles descobriram um segundo caso. Uma mulher atuou como médica no mesmo hospital, usando a identidade de outra brasileira. 

Os dois respondem por uso de identidade falsa, fraude, falsificação de documento público, exercício ilegal da medicina e usurpação de títulos e honrarias, segundo a agência “AFP”.

Entre os casos, está o de uma médica boliviana que usava a matrícula de uma colega aposentada. 

“Quando fomos detê-la, ela escapou”, indicou à agência France Presse o médico Rubén Tucci, presidente do conselho superior do Colégio de Médicos.

Mesmo sem estudos em Medicina, um boliviano de 27 anos exerceu a profissão em uma clínica psiquiátrica privada do bairro de Caballito, na cidade de Buenos Aires.

Um cidadão venezuelano de 34 anos também é investigado por usar a matrícula de uma mulher para ingressar na clínica Ángel Pedro Salas, no bairro de San Martín, na periferia da capital.

“A saúda da população é a prioridade para nós e isso está em risco”, explicou Tucci. “É uma irresponsabilidade absoluta por parte dos diretores das clínicas contratar este tipo de pessoas porque eles só têm que entrar em contato conosco para fazer o controle da documentação de um médico”.

Os ministérios da Saúde do país, da província e da cidade de Buenos Aires não iniciaram, até o momento, pesquisas oficiais, uma vez que os casos ocorreram em sistemas municipais. Consultados, os órgãos afirmaram que vão acompanhar o tema.

O médico Carlos Schwartz, integrante do grupo Pacto Argentino por Inclusão na Saúde, considera que o controle dos profissionais da área deve ser endurecido.

“Não é raro que casos detectados sejam de estrangeiros porque, com países latinoamericanos, há acordados extremamente relaxados. Entram rapidamente no exercício (da profissão). Além disso, são muito mais baratos que os médicos argentinos”, ressaltou.


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