Auxílio emergencial atrasa 1ª e adia a 2ª parcela e causa preocupação

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 23 de abril de 2020 às 10:31
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:38
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Quem precisa de fato do auxílio reclama da demora em receber a ajuda do governo federal

O Ministério da Cidadania divulgou uma nota na noite de quarta-feira, 22, na qual informou que o governo não poderá antecipar o pagamento da segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600. 

O pagamento da segunda parcela estava previsto para começar no dia 27. Mas, na última segunda, 20, a Caixa Econômica Federal organizou uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto para anunciar a antecipação para esta quinta, 23.

Primeira parcela

Segundo o Ministério da Cidadania, no entanto, como muitas pessoas sequer receberam a primeira parcela, seria necessária a abertura de crédito suplementar para garantir a antecipação da segunda parcela, além do pagamento da primeira.

“Por fatores legais e orçamentários, pelo alto número de requerentes que ainda estão em análise, estamos impedidos legalmente de fazer a antecipação da segunda parcela do auxílio-emergencial”, informou o governo federal.

Na nota, o Ministério da Cidadania não informa a data do pagamento da segunda parcela.

De acordo com a pasta, foi pedido ao Ministério da Economia que faça a “previsão para uma suplementação orçamentaria o mais rápido possível”.

Conforme a Caixa, 31,3 milhões de brasileiros já receberam a primeira parcela do auxílio, o que somou R$ 22 bilhões.

Base de dados

Na segunda-feira, quando anunciou a antecipação, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse que a medida seria possível porque a capacidade de pagamento supera o número de dados fornecidos pela Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev), responsável por checar as informações dadas pelos cidadãos.

Na nota desta quarta-feira, o Ministério da Cidadania informou que a Dataprev processou até agora 32 milhões de cadastros e que ainda estão em avaliação mais 7 milhões, o que só deve ser concluído na sexta-feira, 24.

Realidade das mães solo

A faxineira e chefe de família Eva da Silva Moura, de 35 anos, enfrentou três semanas de redução na demanda de trabalho e na renda quando solicitou o auxílio emergencial do governo federal.

Até a tarde da quarta-feira, 22 – mais de duas semanas depois – Eva ainda não tinha visto o dinheiro da primeira parcela. 

Ela conta que o benefício foi aprovado no dia 14 de abril, mas não caiu na conta que tem na Caixa. A faxineira afirma que procurou ajuda no banco, mas encontrou apenas falta de orientação e longas filas.

Segunda parcela: sem previsão

Na noite de quarta, o Ministério da Cidadania, um dos órgãos responsáveis por analisar os cadastros dos beneficiários, reconheceu que ainda há pessoas sem receber o primeiro lote e cancelou a antecipação do segundo repasse, previsto para esta quinta, 23. 

A ideia é “completar o atendimento da primeira parcela e anunciar o calendário de pagamento da segunda”.

Moradora de uma região de baixa renda, Eva divide a casa com a filha, de 13 anos. O orçamento da família era baseado em três clientes fiéis da diarista, no entanto, duas delas suspenderam as faxinas.

“Estou precisando muito desse dinheiro. Eu tô sem nada em casa”.

A diarista cobra R$ 150 por faxina. “Sobram R$ 140, por causa do preço das passagens”, explica.

Com as duas clientes a menos, o que ganha por mês não chega nem a R$ 600, valor do benefício convencional. Para mulheres que criam filhos sozinhas, ele chega a R$ 1, 2 mil. “Agora não sei o que fazer”.

Demanda e atraso

Na última segunda-feira, 20, o presidente da Caixa Econômica Federal Pedro Guimarães, afirmou que mais de 40 milhões de pessoas se cadastraram para receber o benefício, mas o Dataprev informou os dados de 13 milhões. 

Segundo Guimarães, quem foi aprovado e não recebeu a primeira parcela poderá receber duas de uma só vez.

“Por fatores legais e orçamentários, pelo alto número de requerentes que ainda estão em análise, estamos impedidos legalmente de fazer a antecipação da segunda parcela do auxílio emergencial”, informou o governo federal.

Também até a última segunda, o site auxilio.caixa.gov.br havia superado a marca de 275 milhões de visitas e a central exclusiva 111 registrou mais de 46,6 milhões de ligações. 

O aplicativo Auxílio Emergencial Caixa já somava 50,3 milhões de downloads e o aplicativo Caixa Tem, para movimentação da poupança digital, superava 21 milhões de downloads.

Tatiana, mãe de três filhos

Tatiana das Neves, de 34 anos, está inserida no Cadastro Único do Governo Federal (CadÚnico). O auxílio emergencial dela foi aprovado no dia 14.

Tatiana conta que a Caixa criou uma conta social para o recebimento, mesmo ela já tendo uma conta poupança do banco. 

Contudo, ela não conseguiu ajuda na agência para sacar o dinheiro e também não conseguiu confirmar se o recurso já foi depositado.

“Eu enfrentei uma fila muito grande. Fico triste porque não tem nenhum lugar que eu possa ir pra resolver. Já fui ao bando e não resolvi”.

Mãe de três filhos, Tatiana conta que o mais velho, de 16 anos, tem deficiência. Desempregada, ela tem sustentado a família com o auxílio financeiro do CadÚnico.

“Eu estava confiante de que seria o valor de R$ 1,2 mil. Daria pra pagar minhas contas”, afirma. Mas, voltou para casa de mãos vazias.

Solicitação em análise

A motorista de aplicativo Mércia Cardoso de Novaes, de 42 anos, conta que olha o aplicativo todos os dias, desde 7 de abril, mas vê a mesma mensagem: “sua solicitação continua em análise”. 

Com uma filha de 1 ano e três meses e outro de 12, ela teve que parar de trabalhar porque as creches e escolas do DF estão fechadas desde a segunda semana de março.

“A minha filha tava ficando com a babá, mas ela falou que não poderia mais ficar com ela. Eu cheguei a ir atrás de um berçário, mas todos estão fechados”.

Além de não ter com quem deixar as crianças, Mércia conta que o trabalho que exerce é de risco. 

“A última vez que eu trabalhei foi entre o dia 12 e 13 de março. Eu não quero ficar doente e trazer vírus pra minha casa. Eu cuido da minha família”, disse.

A motorista diz que percorre toda a cidade para atender os clientes do aplicativo. “Pego pessoas em todo lugar, até no hospital mesmo, transporto pacientes. Também por uma questão de segurança, eu preferi não trabalhar”, explica.

Apesar de saber do risco, ela conta que talvez deixe de ter escolhas. “Eu acho que vou ter que voltar a trabalhar e expor minha família ao risco”, desabafa.

“Uma grande parte da população está tendo que escolher: ou vai morrer de coronavírus ou morrer de fome”, diz ela.


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