Artista da harmonização, afinador de piano é um ser que está em extinção

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de janeiro de 2016 às 18:49
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 17:34
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Arte de afinar e restaurar pianos,
que exige paciência e sensibilidade,
é cada vez mais rara em Franca

Quem pensa que por trás de uma bela execução existe apenas um grande pianista, desconhece o árduo trabalho de um técnico de piano. Um pouco cientista, um pouco artista, esse profissional é cada vez mais raro no mercado. A profissão que se mantém a mesma ao longo dos séculos, inclui tanto a afinação quanto o conserto e restauro do instrumento. Em Franca existem apenas dois profissionais em atividade. Um deles é Clayton Barbosa, que há 17 anos atua como especialista da parte mecânica do piano e há 12 anos nas restaurações.

Clayton é um dos dois profissionais que se destacam em Franca

Clayton não entrou nessa área por influência de nenhum familiar. Pelo contrário. Foi a necessidade que fez despertar seu interesse, já que ele fazia aulas com a professora Lúcia Garcetti e, aos 21 anos, comprou seu primeiro piano. Apesar de ser razoável, quando bem afinado atendia às suas exigências. Mas, ele diz que os profissionais que afinavam não faziam ou não sabiam fazer o serviço com competência e cobravam preços faraônicos. “Um dia um afinador levou 20 minutos para afinar meu piano e quando o experimentei, estava pior que antes. Inconformado, peguei uma chave de bicicleta e tentei girar as cravelhas – pinos de afinação – e acabei estragando a chave porque as cravelhas são duras para girar. Depois usei uma chave inglesa. Dois dias e três cordas quebradas, finalmente afinei meu piano como queria. E assim começou minha história com a tecnologia pianística”, conta.

Clayton fez curso de manutenção e restauração com um grande mestre e na Yamaha. “Fiz cursos por correspondência na Alemanha, que fornece DVDs e livros com informações preciosas. São cursos caríssimos, mas me ajudaram a fazer a diferença, me dando capacidade para restaurar pianos de qualquer marca e procedência”, revela.

Grande procura

Segundo Clayton, o problema mais comum costuma ser desgastes no mecanismo: o piano não segura a afinação, as notas não respondem como deveriam, serviços feitos por péssimos profissionais que colocam peças alternativas fora dos padrões do modelo e marca, o que acelera o desgaste de outras peças, além de ocasionar o mau funcionamento do piano. “Às vezes, aparecem pianos que o cupim danificou muitas partes ou que ratos roeram feltros e até componentes mais sólidos”, diz.

E quem acha que em Franca não tem procura por esse profissional, se engana. Por atuar como estilista em uma fábrica de calçados e realizar a profissão de restaurador e afinador de pianos à noite e aos finais de semana, além de atender a região, Clayton está sempre com a agenda cheia. “Eu trabalho sozinho e uma restauração de mecanismo leva de um a quatro meses, enquanto uma reconstrução leva em média, um ano. Já as afinações levam em torno de duas horas se o piano estiver ok e o ambiente sem ruídos excessivos”, esclarece Clayton, acrescentando que uma restauração completa no mecanismo de um piano vertical custa em média, R$ 4 mil, fora as peças; em um piano de cauda o valor é R$ 5 mil, sem as peças. Já a reconstrução custa R$ 17 mil em pianos verticais e R$ 40 mil num piano de cauda. “Nas reconstruções, as peças, cordas e o trabalho do móvel e descupinização estão inclusos, mas estes dois últimos serviços serão terceirizados. Já afinação é mais barata, custa R$ 200”, completa Clayton, que após estudar piano durante nove anos, se tornou um exímio conhecedor dos sons e das engrenagens. E um apaixonado pelo instrumento que o faz se desligar de todos os problemas.


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