Aprovado primeiro tratamento exclusivo para prevenção da enxaqueca

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 18 de maio de 2018 às 21:14
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:44
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Maioria das terapias de hoje não são exclusivas e usam antidepressivos e anticonvulsivantes

Os Estados Unidos aprovaram a primeira terapia de prevenção exclusiva
para a enxaqueca. Trata-se de uma injeção mensal, que pode ser combinada com
outros tratamentos existentes. O medicamento tem o nome comercial de Aimovig —
e é produzido pela Amgen, empresa americana com sede na Califórnia.

Atualmente, médicos utilizam medicamentos “emprestados” de
outras doenças para tratar a enxaqueca: por isso, pacientes tomam
anticonvulsivantes, medicamentos para a pressão e até antidepressivos na
tentativa de diminuir as crises; que, nos casos crônicos, podem passar de 15
episódios por mês.

De acordo com o FDA, a injeção pode ser administrada pelo próprio
paciente — sem a necessidade da presença em um serviço de sáude. Antes da
aprovação, a eficácia da droga foi analisada em três ensaios clínicos, com
resultados mais promissores para os que sofrem de enxaqueca crônica. Foram
eles:

– Primeiro, cientistas selecionaram 955 participantes com enxaqueca
episódica (menos que 15 dias de crises por mês) . Eles foram divididos em dois
grupos: um que tomou a injeção e outro que tomou placebo. Após seis meses,
pacientes tratados com a injeção apresentaram, em média, dois dias a menos de
crise por mês.

– No segundo estudo, 577 pacientes receberam a injeção e placebo para
enxaqueca episódica. Após três meses, os tratados tiveram menos um dia de
enxaqueca por mês.

– O terceiro estudo avaliou 667 pacientes com enxaqueca crônica (com
mais de 15 dias de crise por mês). Após três meses, pacientes tratados tiveram
2 meses e meio a menos de crises que os não-tratados.

O neurologista aponta que a injeção poderá ser combinada
com outras existentes para tentar diminuir a frequência de crises — segundo
ele, como a enxaqueca é uma condição multifatorial, a terapia tem a vantagem de
cobrir uma das possíveis causas que não estava sendo “atacada” por
terapias existentes.

A enxaqueca afeta 10% de todas as pessoas do mundo,
informa o FDA (Food And Drug Administration), órgão similar à Anvisa nos
Estados Unidos. A condição também é três vezes mais comum em mulheres que em
homens.

Terapia tem como alvo uma molécula específica

A terapia é a primeira de uma série de outras
estratégias que tem por alvo a molécula “CGRP”, algo como proteína
relacionada ao gene da calcitocina. O neurologista Mário Peres explica que essa
molécula está presente em todas as pessoas, mas fica aumentada em pacientes com
enxaqueca.

Estudo de revisão do
“Physiological Review” publicado em 2014 menciona a função
vasodilatadora da molécula. Ela aumenta o diâmetro de vasos sanguíneos,
mecanismo que também está associado à enxaqueca.

Esse alargamento do vaso sanguíneo, junto com outras
substâncias químicas, deflagra o circuito de dor envolvido na enxaqueca. É
também por esse motivo que hoje neurologistas utilizam tratamentos para o
combate da pressão no tratamento da condição: o objetivo é dilatar os vasos
para diminuir a dor.

A diferença da injeção, entretanto, é que ela tem por
alvo a diminuição dessa molécula e vem se somar ao corpo de ferramentas úteis
para o tratamento, informa Mário Peres.


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