App desenvolvido em Ribeirão analisa e corrige a fala de crianças com Down

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de março de 2019 às 14:11
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:25
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Tecnologia usa inteligência artificial e auxilia o desenvolvimento e o aprendizado das crianças com a síndrome

Um aplicativo desenvolvido na
USP de Ribeirão Preto usa inteligência artificial para interpretar e avaliar a
qualidade da fala de crianças com síndrome de Down. Através do som, ele auxilia
no aprendizado da pronúncia correta das palavras e estimula o desenvolvimento.

Denominado de SofiaFala – por inspiração em uma criança
conhecida do grupo que tem a síndrome -, o sistema está em fase de testes, mas
deve estar disponível para download gratuito até julho deste ano, segundo
Alessandra Alaniz Macedo, uma das coordenadoras do projeto. “A gente
pretendia que a criança, em casa, pudesse ter a prática do exercício
fonoaudiólogo como se tivesse uma fonoaudióloga ali do lado”, afirma a
pesquisadora.

A iniciativa surgiu de uma ideia da cientista da computação Marinalva
Soares, de São José do Rio Preto (SP), insatisfeita com a falta de recursos
para auxiliar a filha Sofia, que nasceu com síndrome de Down e que aos 3 anos
ainda manifestava dificuldades na fala.

De acordo com dados estimados pela USP, um em cada 700 bebês no mundo
nascem com Down, alteração genética no cromossomo 21 que compromete o
desempenho intelectual. No Brasil, a síndrome atinge uma população estimada de
300 mil pessoas de diferentes idades.

Amiga de Alessandra, ela procurou a pesquisadora e sugeriu a elaboração,
em conjunto, de um projeto para o desenvolvimento da tecnologia. “Depois
que Sofia nasceu, comecei a pesquisar muito sobre síndrome de Down e todas as
dificuldades que eu poderia encontrar pela frente, diante de tudo que li, das
pesquisas que fiz e o que pude constatar também com famílias, com pessoas que
fui conhecendo, uma das maiores dificuldades na verdade seria com relação à
fala e também o déficit intelectual”, diz.

Após a obtenção de um financiamento pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), o aplicativo começou a ser
desenvolvido em 2016 por uma equipe multidisciplinar no Departamento de
Computação e Matemática, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Fonoaudiólogos e cientistas da computação, além
de profissionais de áreas como terapia ocupacional, engenharia biomédica e
psicologia, foram mobilizados.

A plataforma, por enquanto compatível com o sistema Android e testado
por pacientes de uma ONG, do Centro Integrado de Reabilitação do Hospital
Estadual de Ribeirão Preto (CIR-HE), e de clínicas particulares, tem uma
interface lúdica que convida a criança a experimentar as palavras e a avaliar
seu desempenho como se fosse um jogo com direito a estrelinhas e aplausos como
respostas.

De
um estalo de língua a um sopro, os sons ali registrados pelo usuário, que pode
fazer tudo sozinho, não só são analisados por algoritmos do aplicativo, como
também são enviados a um fonoaudiólogo da família, que consegue acompanhar a
evolução do paciente. “É como se a gente
estivesse substituindo o caderno que a fono passa para a criança na atividade
domiciliar. O que acontece é que o caderno não dá uma resposta, então a criança
faz o exercício e os pais não têm habilidade de entender se está certo ou não. O
aplicativo vai dar este feedback que a fono vai proporcionar. Se está certo ou
errado, que são as estrelinhas do aplicativo”, afirma a fonoaudióloga
Bianca Bortolai Sicchieri.

De acordo com ela, o objetivo não é substituir a terapia presencial, mas
sim melhorar as atividades que devem ser realizadas em casa. “Esses
resultados vão diariamente para a fono, então ela consegue ter um valor semana,
diário, mensal, para ver como a criança está indo em casa.”

Segundo a coordenadora do projeto, o aplicativo também poderá ser
aplicado em crianças sem Down mas que apresentem distúrbios na fala, além de
pacientes de outras idades que passaram a ter problemas de comunicação depois
de terem acidentes vasculares cerebrais (AVC).

O grupo ainda busca parcerias com empresas para aprimorar os recursos do
aplicativo. “A gente precisa investigar a possibilidade desse aplicativo
ser estendido para esta população também e essa questão de você também tornar o
aplicativo de uso global. A gente quer que a população brasileira como um todo
possa usar”, afirma Alessandra.


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