Analogia com Adoniran Barbosa – ​Saudosa vidinha

  • Fofocas Musicais
  • Publicado em 7 de março de 2019 às 19:24
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:23
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Se o senhor não tá lembrado

Dá licença de contá

Que aqui onde agora está

Essa sexagenária

Era uma moça forte

Lutadora e sorridente

Foi pra ela seu moço

Que um dia o pai dela falou

Sou seu maior amigo, pode inté acreditá

Mas um dia, nem quero me lembrá

Veio o destino com as ferramentas

O dono mandô derrubá

Peguemos tudo que aprendemo

E fumos pra luta diária

Enfrentá a demolição

Que tristeza que eu sentia

Cada ofensa que eu recebia

Doía no coração

Meus amigo quis gritá

Mas em cima eu falei

O destino tá cá razão

Nós ta aqui pra nos transformá

Só se conformemos quando alguém falou

Deus dá o frio conforme o cobertor

E hoje nós lembra das foto do álbum que dei fim

E prá esquecê, nós cantemos assim

Saudosa vidinha construída inté aqui

Dim-dim donde nós vivemo os dias feliz de nossa vida

Saudosa vidinha, vidinha querida

Dim-dim donde nós vivemo os dias feliz de nossas vidas

Adoniran Barbosa

SAUDOSA MALOCA DE ADONIRAN BARBOSA… VAMOS OUVIR:

Cada pessoa que encontro que já passou dos 50, tem suas análises sobre a vida, a maioria deles no silêncio de suas reflexões que agora saltam através das palavras, pois a incompreensão anda reinando pelo mundo e todos querem ter razão e desvalorizar tudo o que foi construído até aqui.

Outro dia, recebi um áudio com uma palestra de Padre Léo onde ele fala das músicas de ADONIRAN BARBOSA e da resiliência em ver as desgraças e ainda fazer música melodiosa e que são cantadas com nostalgia e quase sem dor. Como é difícil isso!

Então, fiz uma analogia aos sexagenários, aos cinquentões que hoje se calam perante a ingratidão que recebem da vida, são chicoteados com palavras ofensivas e o pior: com a falta de amor, ou falta de respeito.

Nós, fomos criados na Ditadura como dizem muitos, e aprendemos a obedecer. Aprendemos a respeitar os mais velhos sem perguntar porquê, simplesmente porque os mais velhos deveriam ser respeitados. Respeitados pelo que já caminharam, respeitados pelo que já construíram, respeitados pelo simples fato de terem vivido mais e poderem nos ensinar o que aprenderam. Era assim e assim recebemos as informações. Me lembro dos orientais que reverenciam os mais velhos…

Respeitar os pais porque nos deram a vida!

Respeitar o teto onde fomos criados, seja ele de palha, de madeira ou de tijolo… Então me lembrei da fábula inglesa dos 3 porquinhos, nos ensinando a construirmos um caráter forte, indestrutível, onde possamos na velhice nos abrigar nas nossas virtudes desenvolvidas durante toda a vida. Pois era assim que entendíamos a fábula, além da parte prática mesmo de lutarmos para termos um lar bem construído para nos abrigar quando não pudermos mais ter a força da juventude.

Nós aprendemos estas coisas. E como obedientes que sempre fomos, lutamos, lutamos e lutamos para deixarmos para nossos netos o nosso exemplo, nosso nome limpo, nossa casa edificada com muito suor, para que eles possam usufruir do nosso nome, nosso exemplo e nosso teto. Sim, deixarmos para os netos significa que aprendemos a cuidar das próximas gerações.

“Os personagens do conto são três porquinhos – Prático, Heitor e Cícero – e um lobo (lobo mau), cujo objetivo era devorar o trio. Ao decidirem sair do lar da mãe (em algumas versões, e avó), eles foram construir cada um a sua própria casa.

Cícero, o mais preguiçoso, não se queria cansar e construiu uma cabana de palha e pilhas de lama. Heitor, decidiu construir uma cabana de madeira sem usar os devidos pregos de aço, enquanto Prático optou por construir uma casa melhor estruturada, com cimentotijolos e vidro. Como a sua casa demorou mais tempo para ser construída, Prático muitas vezes via os irmãos se divertindo enquanto se esforçava para terminar o trabalho.

Um dia, o lobo surgiu e bateu na porta da casa de Cícero na cabana de palha, que se escondeu. Mas o lobo, com um sopro forte, desfez a casa. Enquanto Cícero fugia, o lobo então sai e foi bater na porta de Heitor o da casa de madeira e, com dois sopros fortes, destruiu também a cabana de madeira.

Heitor fugiu para a casa de Prático, onde Cícero se encontrou com o dono. O lobo então foi à casa de Prático e soprou, soprou, soprou, mas não conseguiu derrubá-la. Após muitas tentativas, o lobo decidiu esperar a chegada da noite.

Quando anoiteceu, o lobo foi tentar entrar na casa descendo pela chaminé, mas começou a sentir cheiro de queimado. Era Prático que, com uma panela estava a queimar a cauda do lobo. O lobo então fugiu assustado e nunca mais voltou, e eles viveram felizes para sempre.” Wikipedia.

Mas de repente consigo ver na fábula dos 3 porquinhos que embora tenhamos tentado aprender a fazer a casa de tijolos, as novas gerações quase que se apresentam como o lobo mau que vem soprando tudo o que fizemos com críticas, análises modernas, reavaliação de nossos comportamentos e elas conseguem abalar a casa de tijolos porque agora souberam que existe o aço, a tecnologia, as mudanças de paradigmas, outros valores, derrubam tudo o que nós sexagenários construímos, e nós então ficamos desabrigados no meio da rua, como nos diz Adoniran, perdidos sem saber pra onde ir, porque tudo o que aprendemos foi colocar um tijolo em cima do outro, uma massa no meio por anos a fio, portas resistentes, chaminé e dentro como os porquinhos reunidos, juntarmos todos, dançarmos e cantarmos juntos, cada um com seu instrumento musical.

É… Adoniran. Nos ensine esta resiliência! Transformarmos em música o que foi derrubado através dos tempos, senão, com certeza vamos sucumbir na depressão.

E esta nova geração simplesmente está sofrendo, e na ânsia por acertarem, querem destruir o velho. Mas estão destruindo a si próprios pela falta de amor. E exalam o sofrimento com as críticas , como nos disse Tich Nhat Hanh.

*Esta coluna é semanal e atualizada aos domingos.​


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