Amigos imaginários: universo infantil é rico em histórias e personagens

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  • Publicado em 10 de agosto de 2018 às 15:57
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:55
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Como os pais podem lidar com os seres imagináveis tão presentes na primeira infância?

Cegonha, Lobo Mau, Chapeuzinho
Vermelho, princesas, super-heróis, monstros, Papai Noel, Fada do Dente, Coelho
da Páscoa. O universo infantil é povoado por seres inventados, lendas e
alegorias. Os pais costumam alimentar esse mundo mágico com caçadas a ovos de
chocolate e presentes postos sob a árvore de Natal. Entre uma armação e outra,
pode surgir o questionamento: é saudável deixar os filhos levitando em fantasia
ou o melhor é trazê-los para o chão da realidade?

Para a psicopedagoga Cristina Leite
Soares, a fantasia é saudável para o
desenvolvimento infantil. A criança utiliza o jogo de faz de conta para
expressar suas emoções, representar a sua realidade e vivenciar situações
observadas pelas ações do adulto. Ela completa: “a fantasia também auxilia no
desenvolvimento neurológico e na transmissão de valores sociais, como bondade,
igualdade, compartilhamento, etc”.

Por isso, ela diz que valer-se do imaginário na
criação dos pequenos é mais que recomendável, uma vez que é uma maneira eficaz
de estimular a criatividade. Além disso, elaborar as características desses personagens,
perguntando-se como são, onde vivem e o que fazem, coloca as crianças em
contato com a sua imaginação, o que beneficia o seu desenvolvimento em diversos
aspectos, como na estruturação do pensamento e da linguagem. Não bastasse isso,
é por meio desses personagens que a criança aprende a elaborar melhor seus
sentimentos, principalmente aqueles tidos como negativos, como frustração,
inveja, medo ou raiva. A presença desses personagens ajuda os pequenos a lidarem
com acontecimentos inesperados, para os quais muitas vezes eles ainda não têm
uma resposta adequada, como a chegada de um novo irmãozinho ou uma mudança de
escola. O cérebro infantil fantasia antes de ter raciocínio lógico. “Um dos
estágios de organização cerebral é coordenado pelo processo natural de
fantasiar”, afirma Cristina, citando estudos de Jean Piaget: “A fantasia é uma
forma de você ajudar a criança a organizar seus afetos e as percepções de si
mesmo e do mundo”.

Pais x Filhos

Segundo Cristina, lançar mão de fábulas para
transferir valores sociais é empregar uma linguagem que o pequeno está apto a
processar. Mas esse lado lúdico da infância não beneficia apenas as
crianças. Observar o filho Diogo de sete anos
despertou um lado da auxiliar de escritório Ana Luiza Antunes, 39 anos, que
estava adormecido. “Ele vê magia não só em personagens irreais, mas na natureza,
em tudo que está à volta. Redescobri a fantasia através do olhar dele e voltei
a ser criativa. É uma capacidade que os seres humanos têm, mas vão perdendo”.

Não existe uma idade ideal para contar às crianças que esses personagens
não são reais. Por volta dos sete anos, os pequenos começam a questionar a
existência deles, já que é nessa fase que desenvolvem a maturidade para lidar
com o concreto. “No entanto, é importante que os pais não usem a idade como
regra, já que cada criança forma sua personalidade de maneira diferente”,
explica Cristina, acrescentando que não é necessário que os adultos acabem com
a fantasia dos pequenos. O ideal é que isso ocorra naturalmente, já que a
descoberta da verdade não costuma acontecer de uma hora para outra: aos poucos,
as crianças vão desconfiando das manobras dos pais para esconder os presentes
ou começam a notar que a figura do Papai Noel se assemelha bastante a alguém
que elas já conhecem. “No entanto, se a criança continuar a acreditar nesses
personagens após os 10 anos, é importante que os pais investiguem melhor por
que isso acontece e se perguntem se o pequeno não sente falta de um espaço para
expressar sua criatividade”, orienta.