Algoritmo estão presentes em diversas áreas de sua vida – sem você saber

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 4 de fevereiro de 2018 às 21:48
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:33
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Sistemas de inteligência artificial são uma tecnologia que levanta questões éticas importantes

Podemos até não perceber, mas os sistemas de inteligência artificial
estão se popularizando cada vez mais e se tornando mais presentes no cotidiano,
sendo utilizados até mesmo para a tomada de determinadas decisões.

Um algoritmo já pode decidir se você será escolhido para uma entrevista
de emprego ou se conseguirá um empréstimo, com quem você deve se relacionar e
até mesmo quanto tempo de prisão um criminoso condenado “merece”. Chega a ser assustador.
E especialistas já manifestaram sua preocupação com a falta de transparência no
uso de inteligência artificial para a tomada de decisões.

Veja até que ponto sua vida pode ser afetada pelos algoritmos:

1.
O computador decide se você fará ou não uma entrevista de emprego

Currículos
são cada vez mais descartados sem sequer passar por mãos humanas. Isso porque
as empresas estão empregando sistemas automatizados em seus processos
seletivos, principalmente na análise de centenas de milhares de inscrições.

Nos
Estados Unidos, estima-se que mais de 70% dos candidatos sejam eliminados antes
de serem avaliados por pessoas. Para as companhias, isso economiza dinheiro e
tempo, mas alguns questionam a neutralidade dos algoritmos.

Em
um artigo na revista Harvard Business Review, Gideon Mann e Cathy O’Neil
argumentam que esses programas não são desprovidos de preconceitos humanos,
então, isso pode levar a decisões tendenciosas por parte da inteligência
artificial.

2. Quer dinheiro emprestado?
Seu perfil na rede social pode afetar isso

Historicamente, quando alguém
pede dinheiro a uma instituição financeira, a resposta vai depender da análise
das chances do empréstimo ser pago, com base na proporção entre a dívida e a
renda desta pessoa e seu histórico de crédito.

Não é mais assim: agora,
algoritmos reúnem e analisam dados de múltiplas fontes, que vão desde padrões
de compra a buscas na internet e sua atividade em redes sociais.

O
problema é que esse método usa informações coletadas sem o conhecimento ou
colaboração de quem pede o dinheiro. Também há uma questão em torno da
transparência do código do algoritmo e seu comportamento tendencioso.

3. Um algoritmo pode te ajudar
a achar um amor, mas pode não ser quem você espera

Não
é uma surpresa que sites de namoro usam algoritmos para identificar duas
pessoas compatíveis. É um dos seus principais apelos para o público, na
verdade.

Mas
a forma como isso é feito não é muito clara, especialmente após o eHarmony, um
dos principais deste mercado, ter revelado no ano passado que fez ajustes na
preferências de seus clientes para aumentar suas chances de encontrar um par
ideal, algo que pode incomodar quem perdeu tempo para respoder às 400 perguntas
necessárias para se ter um perfil no site.

Mas
até mesmo em alternativas como o aplicativo Tinder, em que as variáveis são bem
menos complexas (geografia, idade e orientação sexual), as combinações não são
tão simples assim.

Quem
usa o serviço recebe uma nota secreta sobre o quanto essa pessoa é
“desejável”, calculada para “permitir melhores
combinações”, segundo o Tinder. A fórmula é mantida em segredo, mas os
executivos da empresa por trás do aplicativo já indicaram que o número de vezes
que o perfil de alguém é curtido ou rejeitado tem um papel crucial sobre isso.

4. Um programa pode determinar se você é viciado em drogas e
se conseguirá contratar um plano de saúde

O mal uso de medicamentos e drogas é a principal
causa de mortes acidentais nos Estados Unidos, e especialistas com frequência
se referem a esse problema como uma epidemia.

Para lidar com isso, cientistas e autoridades
estão se unindo em projetos baseados em dados. Recentemente, no Estado do
Tennessee, nos Estados Unidos, a operadora de planos de saúde Blue Cross e a
empresa de tecnologia Fuzzy Logix anunciaram a criação de um algoritmo para
analisar nada menos do que 742 variáveis e, assim, avaliar o risco de um
comportamento abusivo com medicamentos.

Isso levantou uma questão ética: os dados
analisados incluem o histórico médico e até mesmo o endereço residencial. O
argumento a favor desse tipo de intervenção é que isso pode salvar vidas e
mitigar prejuízos ao sistema de saúde – viciados em opióides têm, por exemplo,
59% mais chances de serem usuários de alto custo.

O mercado de inteligência artificial em saúde deve
crescer de US$ 670 milhões (R$ 2,13 bilhões) em 2016 para quase US$ 8 bilhões
(R$ 25,4 bilhões) até 2022, segundo um estudo feito pela consultoria
MarketsandMarkets, e essa previsão foi feita antes do anúncio de que a gigante
do varejo Amazon entrará neste mercado.

Acredita-se que o uso de algoritmos e da
inteligência artificial nesta área deve tornar a tomada de decisões mais
eficiente e reduzir o número de erros humanos.

5. Eles determinam até se um filme será feito

Essa não é a primeira vez que alguém dirá que
Hollywood tem uma fórmula para produzir sucessos. Mas é diferente do processo
baseado na experiência e instinto de produtores ao selecionar um roteiro ou
elenco.

Algoritmos são usados para analisar não só as
chances de um filme ir bem nas bilheterias, mas também quanto dinheiro ele
fará. Esse serviço é oferecido por várias empresas, e Paramount, Universal e
Warner Bros, alguns dos principais estúdios de Hollywood, contratam essas
consultorias.

Além de comparar um novo filme com uma base de
dados de produções passadas, esses serviços afirmam que podem detectar o
impacto de mudanças na história e até mesmo entre os atores.

6. Algoritmos influenciam em quem você vota e quem será
presidente

Em uma época em que dados tornaram-se mais
importantes do que empatia e carisma no mundo da política, algoritmos são
cruciais para candidatos em busca de votos.

Não foi só a retórica de Barack Obama que
impressionou em sua ascensão rumo à indicação do Partido Democrata para
disputar a Presidência dos Estados Unidos em 2008, mas também seu uso desta
tecnologia.

A campanha de Obama mirou incessantemente nos
eleitores indecisos, usando uma série de informações para individualizar ao
máximo os perfis do eleitorado.

Quase dez anos depois, Emmanuel Macron conseguiu
uma vitória inesperada na França com uma estratégia similar – algoritmos
ajudaram a identificar distritos e bairros que eram os mais representativos do
país como um todo. Isso ajudou a guiar sua equipe na realização de 25 mil
entrevistas usadas para estabelecer as prioridades e estratégias de sua
campanha.

7. A polícia usa algoritmos para prever se você será um
criminoso

O sistema de vigilância da China sobre seus 1,3
bilhão de habitantes é bem conhecido, mas parece haver espaço para expandi-lo.
O governo anunciou em 2015 o desenvolvimento de um sistema capaz de
“prever crimes” com base em dados pessoais, como o histórico médico e
entregas de compras.

Grupos de direitos humanos acusaram as autoridades
chinesas de violar a privacidade dos cidadãos, dizendo que o real propósito do
sistema é monitorar dissidentes.

A China não é, no entanto, o único país a usar
algoritmos para prever crimes: o policiamento baseado em dados é aplicado nos
Estados Unidos há mais de uma década, e algumas forças de segurança britânicas
começaram em 2012 a usar softwares de mapeamento e previsão de crimes.

O programa é bem simples em comparação com algo
como o mundo retratado pelo filme Minority Report (2002): dados sobre os tipos de
crimes, sua localização, data e hora geram um mapa identificando as áreas onde
eles provavelmente voltarão a ocorrer.

Segundo uma pesquisa do centro britânico Royal
United Services Institute for Defence and Security Studies, algoritmos podem
ter até dez vezes mais chances de prever a localização de um crime futuro em
comparação com o policiamento comum.

No entanto, um destes sistemas, o PredPol, usado
pela polícia da Grande Manchester, no Reino Unido, gerou uma polêmica.
Pesquisas mostraram que ele criava uma distorção em que policiais eram enviados
para os mesmos bairros repetidamente, independentemente das reais taxas de
criminalidade nestas áreas.

8. Um computador pode te mandar para a prisão

Juízes em ao menos dez Estados americanos estão
tomando decisões em casos criminais com a ajuda de um sistema automatizado
chamado COMPAS, baseado em um algoritmo de análise de risco para prever a
probabilidade de uma pessoa cometer um novo crime.

Um caso famoso nesse sentido ocorreu em 2013,
quando um homem chamado Eric Loomis foi condenado a sete anos de prisão por
fugir da polícia e dirigir um carro sem a permissão do dono no Estado de
Wisconsin.

Antes de a sentença ser proferida, autoridades
apresentaram uma avaliação, feita com base em uma entrevista com Loomis e
informações fornecidas pelo algoritmo sobre sua probabilidade de reincidência –
o resultado indicava que ele tinha um “alto risco de cometer novos
crimes”.

Seus advogados questionaram a condenação usando
vários argumentos, entre eles que o COMPAS foi criado por uma empresa privada e
que informações sobre o algoritmo não foram reveladas. Também afirmaram que os
direitos de Loomis foram violados, porque a avaliação levava em conta fatores
como gênero e raça.

De fato, uma análise de mais de 10 mil casos na
Flórida ao longo de dois anos, publicado em 2016 pela ONG ProPublic, mostrou
que a previsão de alto risco de reincidência era mais comum para negros do que
para brancos.

9. Eles podem influenciar seu dinheiro

Esqueça as imagens de pessoas gritando na bolsa de
valores com telefones nos ouvidos. Transações no mercado de ações estão se
tornando cada vez mais um produto de cálculos feitos por algoritmos, que são
mais rápidos do que qualquer humano e compram e vendem papéis em questão de
segundos.

Defensores desta tecnologia afirmam que uma
máquina é imune à volatilidade emocional do mercado e investe mais
racionalmente. Isso, no entanto, foi questionado em 2010, quando algoritmos
foram apontados como os culpados pelo crash que fez desaparecer temporariamente
do mercado de ações americano US$ 1 trilhão.

Um relatório do banco JP Morgan estimou que, em
2017, investimentos com base em algoritmos ou fórmulas computacionais
responderam por quase 90% do volume de transações com ações nos Estados Unidos.


+ Tecnologia