Adolescentes em casa enfrentam aumento da ansiedade e depressão

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 20 de setembro de 2020 às 18:30
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:15
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Médicos relatam maior busca por ajuda durante a quarentena; falta de escola também contribui

Adolescentes e pré-adolescentes são um dos grupos mais afetados quando o assunto é saúde mental durante o isolamento social, acreditam especialistas. Foram-se as festas e a convivência com os amigos, vieram a ansiedade e a depressão. É a chamada “balada roubada”.

Definição foi usada por sociedade de psicanálise para representar sentimento de jovens em isolamento social, distante dos amigos. Médicos relatam maior busca por ajuda durante a quarentena do novo coronavírus; falta de escola também contribui para o problema

Adolescentes e pré-adolescentes são um dos grupos mais afetados quando se fala em saúde mental durante o isolamento social, acreditam especialistas. A identidade deles se forma pelo grupo, pelo outro. E quando o outro está longe, isolado também, muitos vínculos acabam ruindo. 

Foram-se ainda as festas, as conversas nos intervalos das aulas, os momentos de experimentar a independência, na escola ou em qualquer lugar longe da família. É a balada roubada, como bem definiu em live sobre o tema a Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro.

Uma pesquisa publicada no “Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry” concluiu que “crianças e adolescentes são mais suscetíveis a ter altas taxas de depressão e ansiedade durante e depois de período de isolamento”. Os pesquisadores analisaram 83 estudos sobre o assunto publicados entre 1946 e 2020.

Outro trabalho, feito na China em abril, mostrou que 22% dos estudantes declararam ter sintomas depressivos durante a quarentena e 18% disseram ter se sentido ansiosos. Os índices são superiores ao que se identificava antes da pandemia. No Brasil, pesquisa da Fundação Lemann e Itaú Social mostrou em agosto que 77% dos estudantes estavam tristes, ansiosos, irritados ou sobrecarregados.

Entre os outros principais sintomas da depressão estão baixa autoestima, sensação de inutilidade, irritabilidade, pensamentos sobre morte, alterações de sono e apetite e até físicas, como dores e enjoos. 

Polanczyk é o coordenador da pesquisa Jovens na Pandemia, feita no Hospital das Clínicas, que pretende identificar os efeitos do momento atual na saúde mental por meio de formulários online preenchidos pelos pais. O grupo espera receber cerca de 10 mil respostas e poder auxiliar as famílias depois.

Não há pesquisa ainda que mostre o aumento de casos de depressão, ansiedade, automutilação ou suicídio durante a pandemia, mas psiquiatras relatam aumento de procura de adolescentes. 

“Esses casos já vinham num crescente e, com certeza, o isolamento social contribui para isso”, diz o psiquiatra da infância e da adolescência e médico colaborador do Programa de Transtornos Afetivos na Infância e Adolescência do HC, Miguel Boarati. “A tendência do adolescente é se isolar do grupo familiar e ficar com os amigos.” Agora, o que acontece é o contrário.

O médico também acredita que a falta de escola e a mudança para o ensino remoto contribuem para a situação. Há diminuição do contato com colegas, professores e, algumas vezes, até mais cobrança, provas e exercícios para compensar a falta da aula presencial.

Escolas e professores, por outro lado, se ressentem de poder ajudar pouco os alunos com dificuldades emocionais durante o distanciamento. Estudos mostram que os docentes são essenciais para identificar questões na saúde mental dos estudantes, casos de abuso, de violência doméstica. 

“Na sala de aula presencial ou no intervalo estávamos sempre observando. Agora, por mais que você peça, eles fecham a câmera”, diz a supervisora pedagógica da Escola Vereda, no ABC paulista, Patricia do Nascimento Carvalho.

Ela conta que muitos pais passaram a relatar problemas de ansiedade e depressão durante a pandemia. Com o gancho do setembro amarelo, campanha de prevenção ao suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina, a escola criou um projeto para que os alunos possam falar de seus sentimentos nas lives.

A frustração com planos de viagens, formaturas, festas, que foram sendo perdidas ao longo do ano, causa mais ainda a sensação de incerteza. “A perspectiva de tempo para o adolescente é diferente, por uma questão cognitiva. Um ano é um tempo enorme para eles, sentem que muitas coisas estão sendo perdidas, o que se torna algo muito estressante”, afirma Polanczyk.

As informações são do jornal “O Estado de S. Paulo”.


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