A essência de um chupim e da sua ética elástica

  • Língua Portuguesa
  • Publicado em 20 de junho de 2017 às 14:59
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:20
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Algumas metáforas nunca foram tão cruelmente realistas, em tempos de crise econômica, ética, moral e preguiça intelectual. Se bem que chupins não precisam de crise para arrotar sua ética elástica: “A culpa é sempre do outro”. “O outro sempre é desonesto”. Mede “o outro” com a sua régua. Os gregos criaram a fábula de Procusto para explicar essa ética elástica. Procusto, um ladrão, fazia com que as pessoas deitassem na sua cama. Se fossem pequenas, ele as esticava; se fossem grandes, ele lhes cortava os pés para caberem nela de qualquer jeito. Sua medida era a sua cama.

O chupim é um pássaro de penas pretas que, sob a luz do sol, parece azul-violeta. Salta fácil do velório para a passarela. É conhecido também como Papa-arroz, Vira-bosta e Engana Tico-tico. Na essência está “levar vantagem em tudo, certo?”. Por falta de talento, por cacoete mesmo, sua régua é irmã gêmea da cama de Procusto. Como não se atém a fábulas, mas às fraquezas do “outro”, acha que nunca será descoberto. Procusto também achava que não seria, acabou morto.

O chupim é especialista na arte de enganar. Traveste-se de revolucionário. Adora postar discursos indignados, colocando-se na condição de vítima, de incompreendido, de perseguido. Usa a velha tática do Grande Irmão de 1984, de George Orwell: atribuir seu disfarçado comportamento tirânico à ameaça de uma potência inimiga estrangeira.

O chupim é obcecado pelo culto à personalidade, à vitimização e, lógico, usa a propaganda massificadora para incutir seu mantra na cabeça dos incautos: a culpa é da potência opressora. Ela é que não tem ética. É a luta de Davi contra Golias…

O chupim sempre arruma um jeito de ficar sob os holofotes, para ninguém perceber a cor das penas. À primeira vista, ninguém percebe a sua essência de predador. Parece bonito, mas não é. Parece inteligente, mas não é. Esperto é. E muito esperto, o coitadinho. Tão esperto que, às vezes, tropeça na própria esperteza ou será na própria arrogância? Seu canto sedutor enfeitiça. E como! Principalmente aqueles que ainda estão em fase de vestibular, pressionados, emocionalmente frágeis, emparedados.

O chupim aproveita o tempo da reprodução: os tico-ticos fazem seus ninhos e, como têm essência trabalhadora, saem para procurar alimentos e sustentar seus filhotes; ele, não. A tática dele é outra, uma tática vil: não constrói nada. Construir com trabalho dá muito trabalho. Espera o momento oportuno para dar o bote: coloca os seus ovos no meio dos dos tico-ticos. Eles cuidarão do seu filhote, sabe que serão pais esmerados. Os tico-ticos o criam, ensinam; ele distorce esses valores, impõe seu modelo de ação, seu modo de viver e pensar. Esperto, não? Mas isso tem um preço: mais dia, menos dia, o criador terá como competidor a criatura. Então, o canto cede lugar à raiva, à alucinação.

Se for pego roubando comida: a culpa é da fome. Posa de coitado, chega às lágrimas. Se for pego nas suas estripulias, levanta a bandeira: estava defendendo os fracos. É um marqueteiro hábil. Age como régio paladino da ética. Com o tempo, as penas caem e aparecem os ossos do corpo esquálido, sem substância alguma.

Para quem aprendeu a identificar um chupim, há uma frase emblemática de Abraham Lincoln, cruelmente realista: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo…” 


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