3ª geração da Piccadilly muda produto e inicia projeto de lojas próprias

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 19 de outubro de 2018 às 07:59
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:06
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Em um mercado em dificuldades, fábrica gaúcha criou novos tipos de produtos

Há três anos, a família Grins, dona da fabricante de sapatos gaúcha Piccadilly, promoveu a terceira geração ao comando da companhia.

O movimento coincidiu com uma das piores crises econômicas da história, que atingiu em cheio o setor calçadista

Por isso, segundo a presidente da Piccadilly, Cristina Camila Grins Nogueira, a companhia foi obrigada a tomar medidas drásticas para evitar sucumbir ao desânimo do mercado: de 2015 para cá, a fabricante modificou sua marca, reviu processo internos, adotou um novo posicionamento de produto e agora prepara um projeto de franquias próprias para oferecer ao mercado.

Apesar de o cenário ainda ser desfavorável – segundo a Abicalçados, entidade que reúne a indústria calçadista, o fechamento de fábricas no Nordeste e no Sul do País levou ao fechamento de 9,3 mil postos de trabalho no segmento somente entre julho e setembro –, a companhia diz ter conseguido preservar sua posição no mercado enquanto põe as mudanças em prática.

Empresa deixou de fazer modelos reféns das tendências de cada estação, para ter estilo próprio. Foto: DIEGO DA ROSA/GRUPO SINOS

Apesar de prever faturamento estável em R$ 400 milhões para 2018, a nova estratégia levou a uma geração de caixa (medida pelo Ebitda – lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) equivalente a 15% da receita. 

“É o melhor resultado da história da companhia”, diz Cristina. “Este ano começou muito bem, muito forte, mas fatores como a greve dos caminhoneiros pesaram sobre as vendas.”

As transformações da Piccadilly nos últimos anos exigiram ajuda externa. A consultoria Gad, de Luciano Deos, foi contratada para modificar processos, marca e posicionamento da companhia. 

Deos conta que o primeiro diagnóstico foi perceber que o diferencial que a empresa exibiu durante décadas – o foco em sapatos confortáveis para o dia a dia da mulher – tinha se esvaído e se tornado “commodity”. “Isso aconteceu porque várias concorrentes lançaram linhas conforto”, explica o consultor. 

Zona de conforto

Por isso, a Piccadilly foi obrigada a encontrar uma nova forma de se relacionar com a clientela. “Tivemos de sair do automático”, define Cristina. A marca ganhou um design mais simples e elegante, movimento que foi acompanhado pelos produtos, que ganharam aspecto mais clássico e uma variedade maior de modelos. 

“Os lojistas estavam acostumados a comprar sempre os mesmos modelos. Então, foi necessário tirar os representantes da Piccadilly da zona de conforto e incentivá-los, com treinamento de moda, a ampliar o leque ofertado”, conta Deos.

No processo de modificação do estilo da marca, a presidente da Piccadilly diz que a empresa começou a trabalhar com o conceito de uma moda proprietária, mais clássica, sem que a marca ficar refém das tendências de cada estação.

Para conseguir vender o novo posicionamento às sapatarias de todo o País – que respondem por quase a totalidade das vendas da companhia –, a empresa pela primeira vez trouxe um diretor comercial de fora da família. “Cada modelo novo que conseguimos fazer o lojista comprar é uma vitória”, diz Cristina. 

Lojas próprias

Já faz vários anos que a Piccadilly flerta também com uma estrutura própria de distribuição de calçados, por meio de unidades que concentrem uma quantidade maior de modelos de sua coleção. 

Durante algum tempo, a companhia emprestou sua marca a pontos de venda independentes, em sistema de parceria. Esse modelo agora está sendo abandonado por uma operação estruturada que pretende ser o pontapé inicial para uma rede de franquias.

As primeiras duas lojas exclusivas da marca serão abertas ainda este mês, em Porto Alegre. A partir dos resultados colhidos, a companhia pretende fazer a expansão para outras regiões do Brasil. 

As unidades próprias vêm em um momento em que as redes multimarcas enfrentam um momento difícil. Além disso, segundo a presidente da Piccadilly, as lojas poderão ter um papel importante na busca de um objetivo que a empresa ainda persegue: a elevação da percepção do valor da marca e, consequentemente, do preço médio dos produtos.

“Estamos na construção de um novo caminho, que tem um apelo mais emocional, e não mais racional, em que a compra do produto é definida pelo fator conforto”, diz a executiva.


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