1,3 bilhão de pessoas têm qualificação diferente do exigido pelo mercado

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 28 de agosto de 2019 às 10:57
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:46
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Levantamento divulgado na segunda mostra que “lacuna de competências” custa cerca de 6% do PIB mundial

Estudo mostra que mais de 1,3 bilhão de pessoas no mundo deixa de atender às exigências dos empregos que ocupa, seja por falta ou excesso de qualificação para a vaga. 

A “lacuna de competências” custa cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. 

A conclusão é do relatório “Missão Talento – Unicidade: um desafio global para um bilhão de trabalhadores”, apresentado, na segunda-feira (26), durante a 45ª WorldSkills, a olimpíada global de profissões técnicas, realizada na Rússia.

O déficit de talentos é um “imposto” sobre produtividade empresarial que pesa tanto para os indivíduos quanto para as empresas, e ocorre devido ao descompasso entre as qualificações de trabalho que estão em demanda dos empregadores e do que realmente está em oferta. 

Segundo dirigentes da WorldSkills, certas competências técnicas estão se tornando obsoletas duas a três vezes mais rápido do que há 50 anos, o que está acentuando essa lacuna.

O trabalho foi realizado pelo Boston Consulting Group (BCG), empresa de consultoria em gestão e estratégia de negócios, pela WorldSkills Rússia e pela Rosaton, companhia estatal russa de energia nuclear.

O estudo incluiu entrevistas com 100 dirigentes de empresas em 12 países. 

O objetivo principal era pesquisar as melhores práticas em desenvolvimento de pessoas em comparação com o atual cenário de mudanças econômicas, tecnológicas e sociais sem precedentes.

EXEMPLO

A empresa nuclear russa, por exemplo, possui um “ecossistema de talentos” que acompanha o indivíduo em sua jornada profissional desde o jardim de infância, passando pela escola, a universidade até a própria empresa. 

Atualmente, esse universo inclui cerca de 400 creches e escolas, mais de 230 faculdades e universidades e um sistema de progressão na carreira para os 260 mil funcionários.

“No nosso projeto, prestamos muita atenção na qualidade das escolas de ensino médio e temos parcerias com universidades que capacitam nossos profissionais nas competências que precisamos”, conta a diretora de recursos humanos da Rosaton, Tatyana Terentyeva.

“As mudanças que estão ocorrendo no mundo são tão drásticas e rápidas que temos, junto com nossos parceiros, escolas e universidades, de buscar manter atualizados os programas de qualificação”, diz ela.

De acordo com o presidente eleito da WorldSkills, Jos de Goey, o caminho para superar a lacuna de competências existente e evitar que ela se aprofunde é ofertar diferentes opções de formação para os jovens.

“A resposta é: educação, educação e educação. Além disso, os governos devem assegurar que os investimentos não sejam apenas no ensino superior, em universidades, mas também na educação profissional”, defende.

No Brasil, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) possui um observatório dos 28 setores da indústria para manter atualizados seus cursos, de acordo com as necessidades do mercado de trabalho. 

O Modelo SENAI de Prospecção permite prever quais serão as tecnologias utilizadas no ambiente de trabalho em um horizonte de cinco a dez anos, o que reduz a lacuna de competências e oferece os melhores talentos às empresas.

A metodologia já foi transferida a instituições de mais de 20 países na América do Sul e no Caribe. 

O método foi apontado ainda pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como exemplo de experiência bem sucedida na identificação da formação profissional alinhada às necessidades futuras das empresas.

ATUALIZAÇÃO

“O SENAI tem duas metodologias: o Mapa do Trabalho Industrial, com o qual acompanhamos a geografia do emprego, e o observatório tecnológico. 

Com ele fazemos uma análise de cenários, acompanhando sempre cinco anos à frente em cada um setores industriais”, explica o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi.

“Estamos sempre treinando e capacitando os nossos alunos nas novas tecnologias em todos os setores, de tal forma que o estudante do SENAI está sempre atualizado com o que o mundo do trabalho vai exigir dele no futuro”, completa.

O competidor brasileiro na WorldSkills de Aplicação de Revestimento Cerâmico, Lucas Giovani Gomes, de Bauru (SP), relata que, na sua área, a maioria dos profissionais não tem formação específica para oferecer serviços de excelência, o que compromete a qualidade para o consumidor final.

“Hoje, no Brasil, as pessoas aprendem mais na prática, o que prejudica o contratante do serviço”. Ele, que fez curso no SENAI e chegou à cidade russa de Kazan, no mundial de profissões técnicas, acredita que será um profissional diferenciado. 

“O mercado está mudando, está exigindo mais, porque o mundo inteiro está evoluindo. A construção civil também segue esse caminho e profissional também precisa evoluir”, afirma.

Marcelo Augusto dos Santos, de Pederneiras (SP), competidor de Pintura Automotiva, por sua vez, diz que, em sua área, a qualificação já é uma exigência para atuar no mercado.

“Antigamente, os profissionais atuavam apenas a partir da experiência, mas agora com as novas tecnologias chegando ao Brasil é necessário fazer algum curso e se manter atualizado, senão você fica ultrapassado. A qualificação é essencial”, diz ele.

A COMPETIÇÃO

A WorldSkills é o maior torneio de educação profissional do planeta. A cada dois anos, jovens de até 22 anos disputam medalhas de ouro, prata e bronze em provas que reproduzem o dia a dia das profissões. 

Cada ocupação tem provas específicas, nas quais os competidores precisam demonstrar habilidades individuais e coletivas para realizar provas que reproduzem o dia a dia do mercado de trabalho em padrões internacionais de qualidade. 

O Brasil é representado por 63 jovens, ex-alunos do SENAI e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). 


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